Esticamos cem metros de mangueira e ligamos diretamente na cachoeira. O jato que saía era fortíssimo e, assim, por algum tempo tivemos banho ao ar livre e, de quebra, lavamos a casa por dentro e por fora, aliás, uma história à parte. O Areni e a Enia, antigos moradores da Furna, nos trouxeram esta mangueira numa visita. Vieram nos ajudar a dar um "banho" na casinha, uma vez que não iríamos mesmo derrubá-la, como mais de uma vez nos foi sugerido e, sim, habitá-la imediatamente, do jeito que estava. Trouxemos alguns carpinteiros para orçar a reforma, porém, desistíamos toda vez que mostravam a conta e, invariavelmente, depois do conselho: é melhor derrubar, gastarão menos dinheiro do que reformando. Acontece que o encanto da casinha era tamanho, que resolvemos iniciar uma reforma por conta própria. E, assim, contra tudo e todos, trabalhamos durante o ano de 2001 inteirinho, reaproveitando desde madeiras de ranchos abandonados a mourões, recolhemos sobras de madeiras em obras na Ilha de Santa Catarina e assim, descobrimos cada madeira! Tarumã, cedro, ipê, canela-sassafrás, araucária... eternos mourões, estacas e ripas. Poucos acreditaram que concluiríamos a reforma e muito menos, que morarímos na Reserva. E lá se vão quase oito anos. Agora, banho gelado é ritual de verão, porque no inverno nossa ducha é de cascata encanada que dá voltas no “trombone” (a serpentina que instalamos no fogão a lenha) e sai escaldante na cozinha e no banheiro.
Bendita tempestade!
Durante o início da reforma fomos surpreendidos por uma tempestade que arrancou pontes, estourou açudes, desmoronou barrancos e rasgou o solo. Ficamos sem estrada por muitos dias e os antigos moradores juraram que nunca haviam visto nada igual, pois foram surpreendidos pela tempestade enquanto faziam uma visita aqui na Reserva e tiveram que esperar passar para voltarem, passando amarrados em cordas através da imensa cratera onde antes havia uma ponte. Junto com o aguaceiro veio uma enorme quantidade de pedras que entupiu o bueiro ao lado de casa e deixou a gente em pânico. Passado o terror - e a chuva - começamos a transportar as pedras para dentro de casa e concluímos que nada, mas nada mesmo, acontece por acaso. Com as pedras que rolaram, assentamos o piso da cozinha, do banheiro, da varanda, fizemos degraus, paredes e ainda sobrou para rechear o fogão a lenha. Hoje em dia, temos dois quartos de hóspedes onde recebemos amigos, observadores de aves e pesquisadores, que até então, gostaram muito do que viram e da convivência com este casal de malucos, que resolveu morar no meio do mato, sem TV, rádio ou jornal.
Ah, apareceu Internet por antena, o que é bom, pois podemos enviar estas pequenas histórias para serem conhecidas no espaço virtual.
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