05 maio 2012

Irara em chamas



O casal de iraras na reaproximação mais suave que já presencieamos

Um barulho forte, de galho quebrando, de um princípio de incêndio, diferente de tudo aquilo que a gente ouve por aqui ecoou pela furna. 
Olhares atentos na direção de um grande cedro no alto da escarpa, perto de casa. Um animal escalara num átimo o que os olhos quase não seguiram. Fomos correndo aos binóculos, câmera, teleobjetiva com duplicador, tripé. 
Armamos em segundos o tal circo voyeur, enquanto a ponta do cedro... balançava... Uma irara dependurada no mais alto galho, quase despencava, fugindo de sua companheira? Uma fêmea em êxtase, mostrava os dentes ao mais tênue movimento acima? Uma cena séria demais para uma aproximação, pensava o equilibrista na ponta do galho. 
Tempo de esperar a fúria desvanecer... 
Tudo estava ficando meio sem jeito naquele galhinho que ameaçava quebrar; a queda, um desastre. Seria momento de arriscar a volta, mesmo que a fêmea eriçasse a descida? Aguardou até ver que ela se esfregava nos galhos, suave... fechando os olhinhos... soltando as patas e relaxando, enfim. 
Sutilmente, ele inicia a descida e se aproxima da fera, lenta, adormecida. Uma hora inteira de enleios, observamos ele apalpar entre galhos e folhas, até ela deixar-se tocar pela cauda, de olhos e boca entreabertos... O fogo, agora, enredava suspiros e, entrelaçados, escorregaram mais uma vez para o fundo da floresta úmida e cheirosa. Uma cena rara o namoro das iraras. 
Assim, com tanta doçura ao final, só poderia ser a Comedora de mel dos tupis ou a Tayra barbara (Eyra barbara) dos cientistas: quase uma doce ilusão. Não é fácil ver esse mustelídeo, porque está difícil manter árvore e floresta, coisas que eles adoram e precisam. 
Veja só: se aparecer no galinheiro, por exemplo, é morte certa, coitadinha. 
O humano está eliminando sua única chance de viver livre em seu habitat e quando ela descobre quão esperto ele é por prender a comida, abrem fogo sobre ela. Se não matam diretamente, eliminam a floresta, o que, afinal, dá no mesmo. E, sem floresta dá de amar?

Um comentário:

Passarinhando com Demis Bucci disse...

Muito bom!!! Parabéns por ter o privilégio desse encontro!!!