26 novembro 2008
Ratos, cabaça e vespas
No início da primavera de 2004 aconteceu a ratada, um fenômeno que acompanha o florescimento da taquara, uma vez a cada 30/35 anos. Na Reserva pudemos observar tudo desde o início, e foi assim...
Uma malha de taquara no meio da floresta começou a amarelar e um vizinho imediatamente falou, sem pestanejar: pode se preparar que lá vem ratada! Ratada?! Como assim? É só começar a amarelar a taquara que os ratos vão aparecer aos milhares, pode ter certeza! Naquela época estávamos cursando as primeiras aulas de Biologia, como alunos ouvintes, na UFSC e o nosso mestre na Botânica era o Ademir Reis. Claro, levamos o caso para a aula e ele sabia da existência mas não havia tido contato direto com o caso, ainda, o que deixou todo mundo ouriçado. Era muito cedo e os ratos não haviam começado a dar o ar de sua (des)graça.
Explico: o florescimento e a frutificação da taquara é uma super dose de proteína nos pequenos mamíferos que vivem em função das sementes na floresta e, neste caso, os beneficiados foram os ratos silvestres. Começaram a procriar feito loucos e a população atingiu um apogeu inacreditável, rapidamente. Acontece que a semente da taquara não dura muito e os ratos, logo começam a comer seja lá o que for, uns aos outros é o limite da fome. Assim, experimentaram de tudo ao redor de casa e no rancho e nos vizinhos apareciam comentários todos os dias, do tipo: Ah, roeram a mangueira do óleo diesel da Tobata; a mangueira de água, comeram todas as abóboras plantadas; acabaram com meu milho; entraram no sótão, roeram os fios da luz, do carro, e por aí vai...
Na Reserva não foi diferente, roeram até tampa de creolina, mangueira, uma lona bacana que eu usava para proteger a Toyota, entraram dentro de casa, no forro, procriaram em tudo que é canto. A cabaça da foto estava plantada e já seca quando fizeram um buraco e entraram e comeram todas as sementes, numa única noite. A cabaça devia pesar alguns quilos e ficou oca.
A hantavirose foi o pior que poderia ter atingido as pessoas, pois o primeiro caso aconteceu em Rio do Sul, com o falecimento de um homem de 35 anos. O perigo estava em aspirar ou entrar em contato com as secreções do dito rato, o que levou à morte algumas pessoas.
Bom, voltando para a cabaça, depois que tudo voltou ao normal, dependuramos a cabaça furada numa árvore perto de casa, para que algum pássaro fizesse um ninho, pois parecia ser aconchegante.
Demorou e quem se aproveitou foram os marimbondos. Porém, eu e a Gabi, diferentes de todos os que nos visitaram a partir desta data, aconselhando tocar fogo antes que virasse uma catástrofe, resolvemos conviver com a nova família só para ver no que iria dar.
Teve um dia que uma nuvem absurdamente grande de marimbondos tomou conta da casa, mas nós, nem aí, nem fechamos as janelas, confiantes de que eles estavam só dando um passeio, aproveitando o dia de sol. E foi isso mesmo o que ocorreu, nada de mais.
Convivemos com a família durante mais ou menos um ano e depois de outro grande enxame, a galera resolveu dar no pira, sem se despedir e deixou de presente uma cabaça com uma boca moldada por uma resina super resisitente em forma de turbina, recheada por uma colméia de arquitetura magnífica.
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