15 junho 2009

Passarinhos escalam alunos de Alfredo Wagner

Um pássaro na mão pode mostrar o quanto é importante... que ele esteja solto. Mas como? É justamente o contrário do que diz o dito popular: "mais vale um pássaro na mão, etc" só que resolvemos virar tudo de pernas para o ar e mostrar para os alunos da Escola de São Leonardo e do Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) de Alfredo Wagner que passarinho "na mão" é sinônimo de passarinho livre, vivo, voando e feliz.

Passarinho para todo lado
Resolvemos preparar os Cadernos de Campo, que há anos distribuímos aos alunos de São Leonardo, não somente com a foto de um passarinho na capa, como até então fazíamos, mas o aluno também entraria na foto. Começamos com uma brincadeira: ao bater a foto de cada aluno, fazíamos uma pergunta: "se viesse um passarinho voando agora, aqui, neste momento, como você mostraria ele para a câmera?" A criançada levantava o dedo, o ombro, imaginava o passarinho na cabeça, subindo no cabelo, no pescoço, braço... Ah, foi uma folia geral!

A mágica desvendada
Quando estávamos montando as fotos no
Photoshop (programa de computador) foi outra folia! Pois escolhíamos, entre mais de uma centena de passarinhos, aquele que se encaixaria com a expressão da criança, com roupa, cores, movimento, posição... Finalizada esta etapa, levamos tudo para o laboratório, no Kobrasol, que fez as cópias em papel fotográfico, com apoio da Secretaria de Educação de Alfredo Wagner. Tivemos apoio da Gráfica Floriprint, da qual Ricardo Rizzaro é representante, e ganhamos os bloquinhos, confeccionados com sobras de papel.

A festa do Caderno de Campo
O "festerê" maior aconteceu na hora da entrega. Passaram-se umas duas ou três semanas desde que fizemos as fotos e marcamos uma tarde, primeiro na Escola de São Leonardo. No Peti, já foi necessário mais tempo, pois são duas turmas e muito mais crianças. No período da manhã, o frio fez com que alguns alunos não viessem ao Parque e fizemos a entrega no salão interno, pois o vento frio reclamava por aconchêgo. Juntamos os sofás em círculo e passamos um a um os caderninhos, para que todos vissem as montagens. Muita risada, brincadeira, gozação e partimos para o desenho na primeira folha em branco.
Num outro dia, com a turma da tarde, com mais crianças e calor, fomos para fora e fizemos um grande círculo e recebemos a visita de um curioso pica-pau, que resolveu pesquisar numa árvore ao lado, o que deu um tom mágico à entrega dos caderninhos. As crianças aprovaram as montagens, e as professoras, tanto "reclamaram" que também receberam seus Cadernos de Campo com foto-montagem e tudo, provando, assim, que criança não tem idade. Todos levaram o trabalho para casa, para mostrar aos familiares e trazerem de volta, aguardando pela próxima visita, quando iremos observar e desenhar flora e fauna no entorno da escola.

Vamos quebrar a lingua?
Na montagem da foto incluímos o nome da criança, a família de cada ave, assim como nome científico, popular e inglês. O tamanho original do passarinho também estava registrado na fotografia, pois não foi possível manter a escala de cada um. Assim, a criança pôde perceber, quando anunciávamos as medidas originais, a diferença que existia entre um e outro e entre ele e a "sua" ave.
Falar os nomes em outro idioma foi muito engraçado. Alguns não conseguiram pronunciar da primeira vez, mas depois ficou fácil, pois a cada tentativa, uma explicação e tudo ficava claro, até o significado dos nomes em latim e inglês.


Matéria publicada no www.capitaldasnascentes.org.br

08 junho 2009

Serrador invisível


Vemos TV muito pouco. Quando vamos ao Centro de Alfredo Wagner, pois aqui na Reserva somos eximidos de assistir a este aparelho que despeja mortes e atropelamentos em pleno almoço, parece que só para distrair os estômagos mais sensíveis ao paladar, muitas vezes pasteurizado, das comidas a quilo.

Assim, numa dessas vistas, assistimos a um programa sobre um rapaz, ilhéu, que tinha alguns galhos na mão, “misteriosamente” serrados por “almas de outro mundo”. Claro que a reportagem nem se deu ao trabalho de informar e deixou no ar uma pasmaceira, característica dos programas “sensacionais” que são apresentados na telinha.

Confesso! Na primeira vez que vi um galho serrado assim, certinho, caído no chão, fiquei espantado, quem teria feito aquilo? Um belo dia, nosso amigo Alexandre, professor de Zoologia da Ufsc veio com a luz: é um Bicho-serrador (Oncideres sp), que coloca os ovos em cavidades feitas por ele próprio nos galhos e serra em seguida para que as suas larvas possam crescer e se alimentar daquele galho.

Marcelo, Professor e Engenheiro Florestal e nosso parceiro do Instituto de Pesquisas Ambientais da Furb, complementou: é um Cerambycidae, que ocorre em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além do Paraguai e Argentina. Os ovos são elipsóides brancos com 5mm de diâmetro, dos quais saem larvas vermiformes branco-leitosas que chegam a 30mm de comprimento; cabeça achatada e fortes mandíbulas, que “duram” cerca de um ano! Depois, viram pupas e, então, adultos, normalmente entre novembro e fevereiro.

É raro de se ver, pois serra, normalmente, à noite ou de madrugada. O nosso fotografado, ao lado, estava atrasado ou se perdeu na hora, porque já era bem tarde quando observei-o trabalhando sem parar num belo exemplar de Cedro (Cedrela fissilis) com mais de um metro de altura. Como, aqui na Reserva, plantamos e deixamos nascer muitos cedros, um ou outro ganha uma poda “radical” do nosso amigo Serrador, porém rebrota e há casos de serem serrados mais de um ano seguido e sempre rebrota!