Madrugada iluminada na Reserva. Foto Renato Rizzaro |
Moradores de São Leonardo nunca viram nada parecido; um espetáculo fantasia, diziam.
Nosso encantamento começou lá no Alto da Boa Vista, vindos da Ilha, ao avistar as montanhas espatuladas de branco puro, tanto que nem o azul profundo e denso do céu conseguia tingir. Subimos a Serra e por ali ficamos até o sol plantar fogo. Então, descemos o canyon da Reserva e visitamos estrelas.
Dia seguinte, a surpresa: neve nas árvores, na beira do rio, espalhada pelos telhados, torrões pelo chão, água congelada, absolutamente tudo banhado de céu, bleu.
A letargia no vôo do beija-flor pelas minguadas flores apontava para o termômetro a menos dois e nem o sol, poderoso, conseguia esquentar a furna. Descongelados, os canos cuspiram barro e as frágeis folhas tostaram.
O tempo, sempre atrasado por estas bandas, parou de vez e sobrou hora naquele dia para sorver um outro ar, picante, temperado, marítimo, polar. Foi então que muito mais do que estrelas cobriram nossos sonhos de profundo silêncio e lua e outro dia veio e juntou semana e cheiros e afazeres... Naquele instante, ora, nevamos para sempre.
Gabriela na beira do Rio das Furnas. A face Sul ficou assim durante o dia todo. Foto Renato Rizzaro |