17 agosto 2011

Biodiversidade na Caixola da galera

PETI de Alfredo Wagner
Há tempo,  distribuímos as primeiras Cadernetas de Campo com fotografias de aves para os alunos da Escola de São Leonardo. Em 2007 resolvemos desenvolver um mapa com música. Adaptamos, numa música do Tom Zé, o refrão, que dizia: Mapa com música é muito bom, então, mão na massa! A letra propunha o que  poderia ser feito com um mapa: indicar uma casa, mostrar os rios, árvores, pontes, o nascente, o Cruzeiro do Sul...

Apresentamos a bússola, apontamos o Norte e incentivamos para que desenhassem passarinhos - no local onde apareciam - diretamente no mapa.  Repleto de informações, este mapa foi utilizado durante aquele ano como gerador de discussão nas atividades desenvolvidas na escola, pois as crianças sempre acrescentavam novidades ao mapa e nos questionavam muito. Foi ótimo!
No final do ano propusemos, também voluntariamente, desenvolver alguma atividade  no PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) em Alfredo Wagner.

Iniciamos com a confecção de flautas de bambú e logo fizemos uma primeira “Apresentação” e, tempos depois, um “Concerto”. Tudo aconteceu em clima de pura improvisação, muito proveitosa, por ter criado uma perspectiva absolutamente informal, tanto na música, quanto na proposta de Educação Ambiental. O resultado dessa atividade, literalmente, caiu do céu.

Após o “Concerto”, na hora do lanche, as crianças iniciaram uma conversa sobre aves. Havia ninhos de corruíra e andorinha no teto e alguém perguntou se a gente sabia de quem eram aqueles ninhos. A curiosidade cresceu e a roda estreitou para ouvir o que sabíamos sobre aves, mamíferos, insetos,  plantas...
O interesse foi tamanho, o dia findou e ficamos de voltar, em breve, com uma caixa cheia de aves. Estava atiçada a curiosidade da galera.

Férias, reuniões e compromissos depois, lá fomos nós com uma idéia na caixola.
Para apresentar a Caixa de Aves, criamos uma dinâmica especial. Numa roda, com vinte crianças e   dois monitores, as fotos circularam de mão em mão até dar a volta completa.

Lançou-se um tema: Quem conhece a foto que tem na mão? Abrimos o papo por aí, de modo que a foto na mão  pudesse “falar” através da pessoa, como se fosse um fantoche. Esta pessoa puxava  outra,  que também reconhecia o que tinha em mãos e o assunto fluiu. Formaram- se grupos com aves do mesmo  gênero, família, estrato e hábitos.

Criávamos pontes entre os temas, o que despertava o interesse para o próximo assunto. Quando a conversa esfriava, fazíamos uma rodada de novas fotos; assim, a brincadeira durou duas horas. Conversas  paralelas eram incentivadas e havia situação em que um passarinho chamava a atenção  de todos. Era a oportunidade de explicar o máximo possível, porém, sem deixar as crianças dispersarem, a tarefa mais difícil.

A surpresa da  atividade ficou por conta de um pica-pau-de-banda-branca, que resolveu aparecer AO VIVO, do nosso lado. Um momento mágico!

Após o lanche, outra surpresa: surgiu a tal da Caixola, em pessoa! Aí, sim, um fantoche de verdade, que distribuiu uma foto para cada criança, agradeceu e prestou muita atenção aos comentários,
alguns  profundos, sobre  a atividade com a passarada.

Estagiários, a diretora e a merendeira também ganharam fotografias da Caixola.

O interesse pela  biodiversidade despertou quando ouvimos, dos pequenos, que sem mato não tem passarinho, nenhum bicho, nem água, nem nada. Colocamos o presente nas suas mãos.

Escola de São Leonardo em agosto de 2008

La tierra de los pajaritos pintados


Uruguay, Escola Rural de Colonia Wilson, julho 2010.

As aves viajam sem fronteiras. Encontram poucas pessoas ao seu lado, enquanto persiste a luta infame entre homem e Natureza.
Depois de Riviera, Tacuarembó, Paysandu, Fraybentos, Rosario, estacionamos numa Colonia de Pescadores. Vizinhos, sacamos da flauta de bambu e nos convidaram para um mate. A Caixa de Aves foi aberta e circularam fotos à luz de gerador. Belos olhos e sonhos naquela noite.

Dia seguinte fomos na Escolinha Rural, onde los pajaros pintados voaram nas mãos da garotada.
Ensinamos e aprendemos os nomes, as cores e os hábitos dessa bicharada. Sabiá, lá, é Zorzal; João-de-barro, Hornero; Tia-chica é o Rey del Bosque. Cada criança ganhou uma foto e nós ganhamos um bando de amigos.

Três dias após, paramos em Laguna de Rocha, onde conhecemos Carlos Calimares e Néstor - Pajaro Loco -, guarda parques que investem a vida na preservação de milhares de hectares das lagunas, refúgios e criadores de garça-moura, ema, cegonha, colheireiro, cisne-de-pescoço-negro, tainha, peje rey, capivara e caçadores. Todos na mesma red.


10 agosto 2011

Pumas na Reserva


A imagem é de arrepiar.
Após registrarmos um tanto de tatú, jacú e saracura; dois graxains, furões e outros desavisados que passaram na frente da nossa câmera indiscreta, resolvemos mudá-la de lugar e voilá: um Puma.
É uma emoção tão forte que a gente esquece de geada, chuva, lua cheia... O fato coincidiu com a visita de monitoramento do Flávio e do Lucas, da SPVS. Tivemos o prazer de vibrar juntos com o registro, até então, de um Puma.
Levaram a foto num pen-drive para o Luiz Guilherme, do Instituto Serrano, em Urubici, que estudou o assunto e deu a resposta: não é Puma concolor, mas é Puma yagouaroundi, um Gato-mourisco.
O Luiz já havia falado sobre as fêmeas do Puma concolor, que certamente estariam presentes em nossa área, pois procuram canyons para procriar ou deixar seus filhotes para adaptarem-se à vida solitária, justamente nessa época do ano. Fezes foram coletadas na Reserva, vai daí...
Ainda sobre o concolor, porque tem cor igual ao do veado, os Tupi chamam Sussuarana. Para os franceses é Cougar.
Ocorre desde o Texas, Arizona, Sudoeste dos EUA, Califórnia, Flórida, Nicarágua, Peru, Bolívia, anda por quase todo o Brasil, desce pela Patagônia chilena, atravessa a Argentina, beirando os Andes até quase chegar a Terra do Fogo. 
Mede de 86cm a 1,50m e o rabo vai de 60cm a quase um metro. Pesa entre 30 a 70kg e excepcionalmente, pode chegar a 120. Quilos!
Abriga-se em cavernas, fendas em rochas e galhos. Ágil, cansa com facilidade e foge do homem. Vive em torno de 12 anos e precisa de uma área entre 83 a 600km2.
O Gato-mourisco é menorzinho, entre 83 e 128cm e pesa de 3 a 9kg. Por incrível que pareça, mais raro do que a Sussuarana por estas bandas, segundo Luiz Guilherme.
Habita bordas de floresta, capoeiras e capões, onde prefere ficar perto de rios, lagos e banhados. Está em casa.
Come roedores, lebres, gambás, macacos, além de artrópodes, aves, répteis, anfíbios e peixes.
Sua distribuição geográfica é semelhante ao da Sussuarana, ao contrário dos hábitos, que são diurnos/crepusculares.
Nossa certeza na preservação da Reserva, aumento da área de RPPN, abertura a pesquisas, criação de corredor ecológico e o Parque no Alto da Boa Vista, ganha força expressiva com esta aparição.
Mesmo não sendo uma foto de Sussuarana arrepia menos, mas que arrepia, arrepia...

(Clique aqui e veja matéria posterior a essa, onde foi registrado o Puma concolor)