28 janeiro 2012

Todo ano ele tenta...


O Tucano-de-bico-verde (Ramphastus dicolorus) acima, todo ano furunca um ninho abandonado construido por um João-de-barro.
Lá no início da Reserva Rio das Furnas, em 2001, o João-de-barro (Furnarius rufus) encontrava farto material para retocar seu ninho a cada ano e só abandonou quando a vegetação tomou conta dos pastos ao redor da nossa e de sua casa também.
Então, apareceram vários candidatos ao ninho, entre arapaçus, andorinhas e trepadorzinhos-quietes. Finalmente, quem ficou com a casa foi o Bem-te-vi-rajado (Myiodynastes maculatus) e a cada ano tem nela uma nova família, ou tenta pelo menos...
O Tucano é um assíduo frequentador desta toca e não deixa barato, se tem ovo, engole. Mas não é assim, fácil, não. Tem briga. O casal de rajados está sempre atento e sai em cima do Tucano toda vez que aparece. É uma constante luta para a sobrevivência.
Mas o nosso tucano, sabemos, só vai atrás de carne quando é pequenino, pois depois de grande é frugívoro e granívoro, alimentando-se, como tantos outros, das sementes da Capororoca (Rapanea sp), do Chal-chal (Allophyllus edulis) e tantas outras disponíveis na Reserva.
Silencioso e solitário, vasculhou o cedro e saiu de mansinho. Vi por acaso, numa manhã tranquila de dezembro/2011.

Photo Renato Rizzaro

24 janeiro 2012


Você sabe o que é uma janela cega. Pois então, todas as janelas da casa da Reserva eram assim, cegas, sem vidro, ou fecha e fica escuro ou abre e entra luz, chuva, vento...
Oito das dez foram substituidas por janelas com postigos, com ventilação e vidro, mas duas estão ainda lá, bem na frente da casinha, na sala. Isso para mostrar para os visitantes como eram as originas, pregadas, sem parafuso coisa nenhuma, era tudo na base do martelo.
Estavam quase todas em péssimas condições, atacadas por brocas e principalmente pela ação do tempo, detonadas mesmo, mas duas delas viraram baú, este aí de cima. Ficaram pra contar história.
Dentro tem lenha, a pouca que a gente consegue agora, depois que a SPVS nos orientou a não tirar o alimento da terra em forma de galhos que recolhíamos na beira das trilhas. E tem resultado nisso, sim! As plantas agradecem e depois, a gente tem um plátano muito gentil que nos fornece lenha para o inverno, com seus galhos caindo de vez em quando ou secando e cortando. Tem mais exóticas para cortar, sim.
Enquanto isso o baú vai enchendo de histórias, vazio de lenha qualquer. De vez em quando também tem poda no pessegueiro, na laranjeira, no limoeiro e vai tudo pro baú.
Teve também o tempo em que fomos reformar a casa, esse já andei contando por aqui, carece de mais palavra não, mas o baú, sim. As janelas viraram lenha, assim como muita madeira da casa, menos aquelas muito podres, ritual noturno até que apareceram os pirilampos, puxa vida: pensaram fosse luz e houve uma tristeza enorme aquela noite, porque voavam contra o fogo. Apagamos a ideia de fogueira rapidinho. Queimar coisa, só de dia. No baú, pode sentar.

13 janeiro 2012

Aracuã eleva lista de aves da Reserva para 235


Nestes onze anos de Reserva ainda não havíamos registrado a presença do Aracuã. Neste final de ano ouvimos a sua vocalização durante vários dias, próxima de casa, nos finais de tarde, provalvelmente vinda  do local escolhido para dormitório.

Sua vocalização é um cacarejar altamente rítmico, ventríloquo e de duríssimo timbre; só com muita atenção percebe-se tratar do dueto de um casal; tem a traquéia dobrada, como o Jacú.
Pertence a família Cracidae, assim como Mutuns, Jacus e Jacutingas. Alimenta-se de frutas, folhas, brotos e gosta de comer flores de árvores. Caça moluscos, gafanhotos, pererecas e outros animalejos. Procura barreiros para engolir terra salobra. No seu estômago sempre se acham pedrinhas.


O abrir e fechar impetuoso da cauda é sinal de excitação; tem o tique de sacudir a cabeça. Gosta de banhar-se de poeira e de sol. Dorme sempre no mesmo ponto.


O macho dá comida a sua fêmea, virando e abaixando a cabeça gentilmente, como os pais alimentam os filhos. Seu ninho é construido em cipoais, às vezes no alto das árvores ou em ramos sobre a água ou caídos; aproveita-se de ninhos de outras aves. Monógamo, tende a nidificar em grupo.


Família ameaçada pela caça ilegal e destruição das florestas tropicais, seja bem-vinda ao aconchego da Reserva Rio das Furnas!



Familia: Cracidae
Ortalis guttata
Fonte: Helmut Sick - Ornitologia Brasileira/2001
Photo Renato Rizzaro